segunda-feira, 19 de agosto de 2013

O homem que condenou Jesus

Por que Pilatos atendeu o pedido dos judeus?


O dia ainda não amanheceu, mas uma multidão já se aglomera em frente ao palácio do governador da Judeia. Em outras circunstâncias, tamanho alvoroço seria punido à espada, mas, dessa vez, Pôncio Pilatos precisa agir de maneira diferente.
Vestindo sua túnica branca já famosa e ostentando um rosto sem barba moldado pelos cabelos curtos, o jovem prefeito de 38 anos de idade deixa seus aposentos e encara os sacerdotes e seus aliados, que clamam por uma justiça que ele não conhece. O medo corre pelos nervos de Pilatos.
“Que acusação tens contra esse homem?” - Pergunta ao povo.
*
O julgamento de Jesus, realizado ali, quase no meio da rua, é fruto de uma intensa relação de ódio entre Pilatos e os judeus. Não é de costume que os julgamentos sejam realizados fora do Pretório, mas a urgência do caso exige que o governador atenda aos judeus onde eles querem. E nenhum quer adentrar a casa de um gentio, a fim de não se macular antes da Páscoa.
“Se esse homem não fosse delinquente, não o entregaríamos a ti.”
A reposta nasce cheia de um orgulho ferido que só pode vir de um sacerdote. Ela não acusa, mas também não permite que Pilatos desconfie de sua autoridade. Logo, todos os outros tomam discursos semelhantes.

A revolta do povo é crescente desde que o governador pôs os pés em Jerusalém. Enviado por Roma, a capital do mundo, para governar aquela terra perdida, Pilatos sempre deixou em primeiro plano os interesses do Império.
A primeira revolta que teve que enfrentar foi já no desfile de posse. Em Jerusalém, o povo é muito religioso. Não permite que outro deus seja adorado. Quando os soldados entraram usando insígnias que adoravam e faziam do imperador um deus, a revolta tomou conta da Cidade Santa.
“Aqui dentro só o Senhor é adorado”, reclamavam. “As insígnias não podem entrar na cidade.”
Ora, Pilatos não é judeu nem religioso. É político, de origem militar, habituado a lidar com sangue e poder. Logo, ficou muito contrariado quando seus superiores o fizeram retirar as imagens da cidade.
Nasceu o ódio pelo povo, que agora entrega a Pilatos um homem odiado.
Nossas leis não nos permitem matar
O governador ouve isso e entende a dimensão do problema. Os judeus querem a morte dAquele que se proclama rei, mas não O podem matar.
Os governadores estrangeiros nunca foram bem-vindos na Judeia. Mas Pilatos quis se impor. Chegou a tomar dinheiro do templo para construir um enorme aqueduto. Pecado! Usou o pretexto de revolta popular para matar inocentes desarmados com seu exército.
Volta e meia, pequenas aglomerações surgem. Com apenas 6 anos de mandato cumpridos, Pilatos corre o risco de perder o poder. Embora não goste do local que governa, entende que um bom trabalho realizado na Judeia o levará a ser consultor do imperador, em Roma.
Por isso, mesmo sem ver culpa no nazareno amarrado e surrado que os soldados seguram, resolve interrogá-lo.
Não vejo falta nesse homem
As palavras de Pilatos são cautelosas. Se Jesus fosse uma ameaça para Roma, teria sido preso quando entrou triunfalmente em Jerusalém. Então tenta a absolvição do Homem, mas não tem real poder para isso.
Lembra-se Pilatos de que os judeus sim podem salvar o chamado rei dos judeus. Em tempos de Páscoa, um bandido sempre é perdoado. Absolver Jesus causará um tumulto irremediável entre os judeus e, com Roma já prestando atenção aos motins, Pilatos perderá seu cargo.
Por outro lado, matar um inocente tão sereno e sábio pesa a consciência do governador.
“Vocês querem que eu solte Jesus, o rei dos judeus?”
Pilatos só se convence de que deve matar Jesus quando alguém lhe diz que qualquer um que se proclama rei é contra o César. Procurando um pretexto para atender ao povo, o governante aceita a desculpa e entrega o homem aos judeus sedentos de sangue.
Seu cargo está salvo graças ao sacrifício do Filho de Deus.
Dois mil anos adiante
A vida de Pilatos após o julgamento de Cristo é nebulosa. Sabe-se que ele suprimiu brutalmente uma revolta religiosa samaritana pouco depois e que, em 37 depois de Cristo (D.C.), foi destituído de seu cargo graças à violência, à corrupção e à parcialidade que sempre empregou em seus julgamentos.
Alguns dizem que, no final de sua vida, Pilatos se converteu ao cristianismo e, “arrependido” de seus pecados, cometeu suicídio.
Seja como for, Pôncio Pilatos entrou para a história como o homem que condenou o Senhor Jesus.

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