terça-feira, 4 de junho de 2013

Como mudar o mundo por meio de seus sonhos

O sonho de Luther King


Na tarde de 4 de abril de 1968, uma única bala interrompe a quinta-feira e o futuro de um país inteiro. Atirado de um rifle que se posicionou a quase 100 metros de distância, o projétil de alto calibre acerta o lado direito do pescoço de um homem negro, explodindo seu maxilar e jogando contra a parede o sujeito e o sonho de que milhões de pessoas compartilhavam.
Seus amigos, membros da comitiva revolucionária guiada pelo baleado, levam, em vão, o corpo da varanda do hotel até o hospital Saint Joseph, em Memphis, Estados Unidos (EUA). Martin Luther King Jr. é declarado morto menos de 1 hora depois e leva para o túmulo a esperança de ver um mundo justo.
O Mundo
O sonho de Martin nasceu com ele, em 1929. O rapaz cresceu dentro de uma família cristã, onde aprendeu se expressar com eloquência. Empenhado e comprometido em seus estudos, concluiu a faculdade aos 19 anos e o doutorado em teologia aos 26, tornando-se um líder religioso regional importante.
O mundo em que dr. King cresceu era racista e assassino. Nos EUA daquelas décadas, grupos malévolos menosprezavam, humilhavam e matavam negros. Um desses cânceres sociais, o Ku Klux Klan, sozinho, contava com quase 4 milhões de brancos dispostos a queimar negros vivos.
O pensamento coletivo que reinava era simples: brancos odeiam negros, que em defesa própria odeiam brancos, que consequentemente odeiam ainda mais os negros. A diferença entre as duas castas que dividia os EUA era o poder, até então todo concentrado na mão de homens ricos, conservadores, e brancos.
Rosa Parks
“Eu não vou levantar.”
As palavras de Rosa Parks eram granadas dentro do templo. Ninguém entendia de onde aquilo vinha ou para onde estava indo, mas sabia o tamanho do estrago que seria feito.
“Levante-se! É uma ordem!”, espumou o motorista do ônibus. Rosa não se mexeu.
Era tarde de 1º de dezembro de 1955 quando aquelas palavras explodiram. Todos dentro do ônibus, brancos e negros, espantaram-se com a coragem da moça de 19 anos de idade.
“É a lei! – bramiu ameaçador o que estava em pé – Todo negro deve ceder seu lugar ao branco quando o ônibus está cheio!”
É claro que ele se julgava superior à menina que voltava cansada de sua jornada de trabalho, mas não era o único. Toda a sociedade pensava assim. Por isso a recusa em se levantar levou Rosa Parks até a prisão e ao pagamento de 14 dólares em multa, uma quantia imensa quando lembramos que, naquele instante, um sofá valia 30 dólares.
O sonho de um mundo igualitário era compartilhado por Rosa, Martin e milhões de outras pessoas. Por isso os negros de Montgomery, em Alabama, juntaram forças e saíram às ruas. Por sua liderança natural, Martin foi escolhido como porta-voz.
A primeira decisão foi boicotar o sistema de ônibus da cidade. Durante 382 dias, nenhum negro utilizou o transporte público. Muitos brancos apoiaram a causa, ajudando, inclusive, no transporte de seus semelhantes.
Quando o Supremo Tribunal dos EUA declarou anticonstitucional a segregação racial em transportes públicos, Martin e Rosa já eram heróis nacionais. Eles lutavam contra uma discriminação que completava quase 500 anos de existência, sendo que a principal arma dessa injustiça era exatamente o apoio do Governo.
Eu tenho um sonho

Já formado em filosofia, dr. King se tornou um ativista do pacifismo. Sobreviveu a vários atentados e prisões e iniciou a luta pelos direitos civis dos negros. Fundou a Conferência da Liderança Cristã no Sul (SCLC) e passou a lutar por melhores condições de vida aos negros, incluindo educação, moradia, direito ao voto e fim da segregação racial.
Foi durante essa luta que ele recitou seu famoso discurso “Eu tenho um sonho” para 200 mil pessoas. “Eu tenho um sonho em que minhas quatro pequenas crianças vão um dia viver em uma nação onde elas não serão julgadas pela cor da pele, mas pelo conteúdo de seu caráter”, bradava em seu aclamado discurso.
Esse mesmo discurso foi o último passo na conquista da Lei dos Direitos Civis, de 1964. A partir desse dia, ficou proibido por lei que a discriminação acontecesse em qualquer local público.
O último discurso
No salão da Igreja Deus em Cristo, localizada perto do pequeno hotel em que dr. King está hospedado, poucas pessoas assistem ao discurso do líder. O homem mais novo a receber o Prêmio Nobel da Paz, em 1964, voltou à cidade para acalmar uma manifestação de 25 mil pessoas. Não imaginava que no dia seguinte 39 morreriam e 2,5 mil seriam feridos em seu nome.
“Bem, eu não sei o que virá agora. Teremos dias difíceis pela frente”, pronunciava ainda sentindo o cheiro da chuva que afastara a maior parte dos seguidores. “Como qualquer pessoa, eu gostaria de ter uma vida longa. A longevidade é boa. Mas não estou mais preocupado com isso agora. Quero apenas cumprir a vontade de Deus.”
Dr. King dedicou os últimos anos de sua vida à luta pela paz, quer fosse nas ruas de Washington, quer fosse no Vietnã. Exemplo disso é que o projeto abortado pela sua morte buscava solução para a pobreza de negros e brancos sulistas.
Mais do que um sonho, dr. King teve um objetivo, trilhou seu caminho e, com fé, alcançou suas metas. A semente lançada por ele criou raízes profundas e mudou a sociedade, a ponto de, apenas 4 décadas depois, um negro se tornar presidente dos EUA.
“Quando nós deixarmos o sino da liberdade soar em toda moradia e todo vilarejo, em todo estado e em toda cidade, nós poderemos acelerar aquele dia quando todas as crianças de Deus, homens pretos e homens brancos, judeus e gentios, protestantes e católicos, poderão unir mãos e cantar nas palavras do velho spiritual negro: ‘Livre afinal, livre afinal. Agradeço ao Deus todo-poderoso. Nós somos livres afinal.’”
E você, qual o seu sonho?
Veja o discurso "Eu tenho um sonho", realizado durante a Marcha sobre Washington, em 1963:

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